Educação e audiovisual: voz do poste ou internet?
- Ipsum Nocce
- 11 de nov. de 2020
- 3 min de leitura
Ricardo Macêdo, setembro, 2020.
Comunicação?
substantivo feminino
1. ação de transmitir uma mensagem e, eventualmente, receber outra mensagem como resposta.
"a c. entre uma base terrestre e um míssil"
2. a informação transmitida; seu conteúdo.
"sua c. foi claramente entendida"
O que é comunicação? O que é se comunicar com alguém hoje? No mundo talvez, comunicar seja: utilizar de dispositivos com conexão de internet, como smartphones, Iphones e smartwatch, contudo... e no Brasil? Vocês já se perguntaram como seria essa realidade, esses mesmos dispositivos, smartwatchs, em Ponta de Pedras, Muaná (PA)? Ou em Cristianópolis ( povoado que fica no município de Santo Antônio do Jacinto, em Minas Gerais) ?. Em muitas dessas localidades, claro, devem existir smartwatchs, mas acima de qualquer outro meio de comunicação, ainda vigora o rádio, sim, aquele radinho de pilha portátil, que não nos abandona quando a luz ou a conexão da internet vai embora.

O que quero dizer com isso? Que independente dos meios de comunicação no mundo serem de um jeito específico, voltados para esse futuro que bate nossa porta a todo momento, ainda temos em muitas cidades no Brasil, formas de comunicar os ocorridos via rádio, via dispositivos muito específicos, de nossas culturas locais. Eu mesmo, ao escrever esse texto, o escrevo a partir das ferramentas que disponho: de menino que não teve um bom ensino fundamental e médio, com seus erros de gramática e português atropelado. Mas deixar de comunicar, nunca! Assim parece a relação de muit*s com o uso do radinho, a informação chega à el*s, mas chega meio enviesada por meio dele, sem imagens, com áudio ruim, mas ela chega.
Conversando com um amigo, ele me disse que em Rondon do Pará, tem o carro de som que divulga as lojas do bairro; em Ouro Preto, cidade onde moro, também vi isso. Em Icoaraci, minha cidade natal no norte do país, me surpreenderam, criaram uma tecnologia nova para comunicar as informações e novidades das lojas: a bicicleta de som, que consiste em uma bicicleta, um homem pedalando e uma caixa pequena de som na garupa. A informação vai de garupa. Vai colada atrás daquele que deseja informar, olha só que lindo! Ao invés de ficar na cama, deitado fazendo o merchand no Facebook, Instagram e Youtube, o cara sai para pedalar, exercitar o corpo e divulgar diretamente a informação, e às vezes, ainda pára na esquina, para fazer pose ou tentar conversar com algum passante conhecido. Esse é um dos modos de comunicar informações no Brasil atual.
O que quero dizer com isso em relação a importância da propagação da educação do audiovisual? É que ela tem de ocorrer respeitando ou se solidarizando com as especificidades comunicacionais de cada cidade ou cultura. Não posso divulgar minha programação cinéfila ou meu programa de podcast somente por meio da internet, e se poucas pessoas tiverem internet? E se a maioria das pessoas da cidade que moro não tiverem internet? Eu e minha programação vão chegar a muitas pessoas, mas não aqueles que me viram crescer, então proponho que, divulguemo-na na internet, mas também, divulguemo-na nas rádios, nas vozes dos postes, nas bicicletas e nos carros de som.
Essa é só uma faceta de como a formação de público para o cinema pode atuar nas cidades pequenas onde o audiovisual chega devagar, mesmo em tempos de pandemia, a voz do poste e do locutor, parece ainda ser um meio ótimo de divulgação, pois chega tanto aos jovens quanto aos idosos, as crianças e aos adultos.
Proponho então que, os novos formatos de divulgação do audiovisual não sejam tão novos assim e que, os ancestrais desses meios sejam levados em conta, a ancestralidade é o futuro, diriam alguns teóricos, e em tempos de valorização da ancestralidade, proponho que não valorizemos somente nossos ancestrais mas o equipamento que nossos ancestrais utilizavam para se comunicar, pois tal equipamento que para alguns parece ser coisa do passado, ainda é coisa do presente em muitas cidades do Brasil.
Proponho que seguremos a euforia em digitalizar tudo, afinal, a formação de público para as artes, depende de nossa sensibilidade, antes da escolha do meio que vamos utilizar para realizar a divulgação da informação.
A comunicação em questão visa suscitar no público, reflexões sobre a acessibilidade da educação via dispositivos móveis, aplicativos e redes sociais. Quais os novos formatos de produções audiovisuais (Festivais, Editais, etc) essa realidade vem constituindo? Quão acessível esses modelos são, quais os ganhos e perdas? Já é possível termos respostas sobre a eficiência desses modelos? Mais perguntas do que respostas....
Este texto foi escrito inicialmente para o debate no Cinefest São Jorge, 2020, sobre Educação e audiovisual.



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